EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: MUNDO DO TRABALHO E AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs)
Débora de Macedo Cortez Bosco
Resumo
Considerando que a rede de ensino do município de Bagé – RS, oferta o Componente Curricular “Cidadania e trabalho” na Educação de Jovens e Adultos, elaborou-se uma Unidade de Aprendizagem na qual os discentes problematizaram sobre assuntos pertinentes ao referido tema, visando instigar o interesse do público-alvo em questão (alunos a partir de 15 anos), salientado a importância de ter uma melhor perspectiva de vida cidadã, profissional, social e humana, por intermédio de maiores conhecimentos a respeito do Mundo do Trabalho, Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), possibilidade de autogestão (profissional autônomo, cooperativismo, empregado/empregador, formação continuada) e legitimando a intervenção tão relevante para vida profissional de qualquer sujeito. Tal proposta foi realizada em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental, da referida cidade.
Palavras chave: tecnologias, trabalho, educação
1. CONTEXTO DO RELATO
Em uma turma de Totalidade 6 da EJA (formandos do ensino fundamental), trabalhar a partir da relevância de que os discentes tenham ampliação das expectivas de vida, por intermédio da reflexão sobre as suas existências e como intervêm e relacionam-se no mundo contemporâneo, foi mister iniciar a proposta pedagógica sobre “O Mundo do Trabalho e as TICs”, considerando os conhecimentos prévios dos discentes, indo ao encontro de suas realidades (pela faixa etária do público-alvo) e visando despertar o interesse deles, para que culminassem na construções de aprendizagens e corroborassem aos conhecimentos mínimos necessários para o Mundo do Trabalho e à cidadania, sentindo-se instigados à formação continuada, bem como, construindo conhecimentos científicos do Currículo escolar.
Para tal é imprescindível, no contexto atual de sociedade, pensar a educação escolar condizente com os avanços tecnológicos e os paradigmas modernos de pedagogia, tornando-os um desafio constante aos educadores comprometidos com a qualidade da educação, pois requer ação/reflexão/ação permanentes, bem como, estarem imbuídos da consciência de formação continuada formal ou informalmente, no intuito de acompanhar as novas demandas sociais, culturais, profissionais, educacionais e econômicas, almejando construir, de fato, conhecimentos relevantes junto aos discentes.
Assim, é importante destacar que o tempo e o espaço pedagógico, juntamente com as tecnologias, estão em constante mutação, portanto, a (re)invenção do currículo e das práticas docentes precisam acompanhar tais transformações, de acordo com Zabala (1998, apud ARAÚJO, 2013) pensar a metodologia, que implica: planejamento, conteúdos, realidade/necessidade dos alunos e avaliação.
Dessa forma, é fundamental destacar que “ensinar é criar condições coletivas para a construção de conhecimento” Araújo (2013), trabalho que precisa ser arraigado de significados aos educandos no que tange às TICs, fomentando discussões a respeito da conjuntura moderna de relações sociais, mundo do trabalho (cooperação, autogestão) e oportunidades de informações sobre a atualidade e inovações constantes.
Entretanto, Pozo (2007) explica que:
[...] não se trata apenas de aprender a navegar pela internet […] é preciso considerar também que a construção do próprio olhar ou da leitura crítica de uma informação tão desorganizada e difusa requer do leitor ou do navegante novas competências cognitivas. (p. 34 e 35)
Portanto, é preciso educar o aluno para buscar informações, compará-las e ter senso crítico, analisando-as e considerando aspectos explícitos e implícitos no texto, bem como, interesses políticos, econômicos, culturais e sociais por traz de cada colocação.
2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES
PROGRAMAÇÃO:
O trabalho foi sistematizado da seguinte forma:
Apresentação de todos os participantes (educadora e educandos);
Explicação do contexto da proposta e do tema;
Conscientização sobre a importância de discutir e produzir a partir da referida temática;
Visualização de trecho do filme “Tempos Modernos”, que trata do avanço tecnológico em um período histórico específico;
Problematizações sobre tópicos abordados;
Lançamento da proposta de produção de slides no programa POWER POINT.
Mediante essa discussão é pertinente problematizar sobre o Construtivismo, que almeja a reflexão sobre a resolução de problemas e sem tornar a memorização a única forma de aprender. Ao encontro disso ressalta Perkins (1992,apud REZENDE, 2002): “[...] ambiente de aprendizagem que ofereça ao aluno ferramentas de construção e a possibilidade de interação com a realidade [...]”.
Assim, é necessária a ruptura com atividades de reprodução de conceitos prontos, propiciando possibilidades de interatividade, simulação da realidade, EAD, vídeos, gráficos, animações e áudio, multimídia e multilinguagens, culminando no construcionismo (BOYLE, 1997, apud REZENDE, 2002, p. 6): “[...] disponibilização ao estudante de facilidades para criar algo.”
Tal proposta pode ser desenvolvida a partir da construção de uma Unidade de Aprendizagem que implica:
A elaboração da Unidade de Aprendizagem baseia-se na relevância da temática para o contexto em que se situam aqueles educandos, na matriz conceitual disciplinar, no diálogo, na leitura e na escrita, elementos fundamentais para que os alunos desenvolvam a organização do pensamento, a comunicação e a capacidade de argumentação. (FRUSHI e RAMOS, 2009, p.3)
A partir disto, a professora/pesquisadora desenvolveu uma proposta de Unidade de Aprendizagem elencando um tema pertinente à proposta pedagógica desejada (contemplando o currículo escolar), e aos conhecimentos científicos necessários para construir aprendizagens significativas por intermédio de atividades (pesquisas na internet – vídeo do youtube, textos escritos, textos imagéticos, produção dos alunos no POWER POINT) Dessa forma, é imprescindível destacar que:
[…] uma unidade de aprendizagem, como a entendemos, se estrutura, de um lado, no construtivismo, no educador pela pesquisa e na complexidade, e, por outro, na explicitação do conhecimento do grupo, na construção de um discurso fundamentado na capacidade de argumentação construída pelo diálogo, pela leitura e pela escrita. (GALIAZZI, 2012, p.2)
Portanto, trabalhar com projetos requer a capacidade técnica em estabelecer o tema pertinente às realidades dos alunos e suas culturas, portanto decisão pelo "Mundo do trabalho e as TICs", aliada à condução da proposta pedagógica que faça interrelações com o currículo escolar, perpassando resoluções de problemas inicialmente levantados.
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO
No primeiro momento pedagógico não houve muita participação dos discentes, talvez devido à inibição ou à insegurança, ou por não estarem com a professora titular da disciplina, mas estavam atentos às explicações e à contextualização da proposta apresentada.
Na sequência das atividades foram desenvolvidas as problematizações que dizem respeito ao filme exibido e à contextualização do tema projetado. Pontuando as questões a serem respondidas oralmente e havia exatamente nove discentes em sala, portanto, desafiou-se que cada aluno respondesse, pelo menos, uma pergunta, sendo as seguintes perguntas com as respectivas respostas:
QUESTÕES:
1. Como estás percebendo esta atividade com este tema? “É importante. Tenho medo de mexer. É um desafio, sei que não 'morde', mas tenho medo.”
2. Em que momentos utilizamos as TICs no cotidiano? “Sempre, celular, tablet [vê utilizar], caixa eletrônico, caixa de supermercado de loja – código de barras.”
3. Já utilizas a internet? Se sim, quais as páginas que costumas visitar seguidamente? “Já, facebook, orkut, msm, google,youtube...” (vários contribuíram para esta resposta)
4. Em que trabalhas ou gostarias de trabalhar? “Sim, empreendedora individual.” “Sim, motorista. (Este último acrescentou:) uso GPS, para me achar melhor quando preciso viajar.”
5. No filme “Tempos Modernos”, qual a relação ser humano/máquina que se destaca? “Que tecnologia atrasada!” (Precisou haver intervenção, pois não contextualizou no tempo e espaço o filme, assim necessitou-se explicar tais aspectos)
“Ali na pergunta o ser humano vem primeiro, mas no filme a máquina está primeiro que o ser humano.” (esse raciocínio foi muito pertinente à discussão, já que, no filme evidencia-se o domínio da máquina sobre o ser humano, subsidiando toda a explicação feita antes, durante e depois da intervenção.)
6. Qual a importância de dominar as tecnologias para o aperfeiçoamento humano, social, cidadão e profissional? “A tecnologia está crescendo, a gente tem que dominar elas.”
7. Quais as formas de aprender sobre as novas tecnologias? “Praticando, conhecendo.”
8. Como essas tecnologias poderiam colaborar com teu trabalho/ tua profissão? “Na música: para escutar, escrever...” (um dos alunos trabalha com música) “Pesquisa sobre oferta de emprego, tipo classificados!” “Divulgar o trabalho” (houve, por parte da educadora, uma exemplificação de uma pessoa que começou a fotografar os doces que fazia à filha e, informalmente, recebeu encomendas. Resultado, virou micro-empresária de uma confeitaria. Uma aluna disse:) “Faço salgadinhos e quero fazer uma página no face, tirar fotos e fazer propaganda. Acho que irei vender mais.”
9. Consideras que as TICs são importantes no Mundo do trabalho? “Claro, informação, divulgação, conhecimento.”
Tal prática pedagógica desenvolveu-se sempre fazendo interligações do cotidiano dos educandos com a importância do uso das TICs no Mundo do trabalho e na vida, bem como na obra cinematográfica, instigando os alunos para que dessem exemplos práticos, intencionado exercitar, de fato, a práxis pedagógica. Portanto, neste processo a professora precisa ser vista como facilitadora pedagógica, reconstruindo-se permanentemente enquanto profissional, (re)elaborando conhecimentos teóricos e práticos sobre conceitos atuais de educação e das TICs, sendo portanto:
[...] necessário que o desenho instrucional do ambiente de aprendizagem possa ajustar-se às necessidades particulares de cada aluno, o que ainda é um grande desafio para o planejamento na área de tecnologia educacional. (REZENDE, 2002, p.13)
Esta prática só é possível a partir do momento em que os discentes são ouvidos, havendo possibilidades de manifestarem-se, dialogarem com a educadora e entre eles. Claro, que inicialmente, alguns foram resistentes a expressarem-se oralmente, mas se obteve grandes e pertinentes contribuições de todos, embora a participação tenha sido desproporcional.
Na segunda aula, alguns alunos não compareceram, porém estavam três alunos que faltaram na aula anterior, somando oito discentes.
O desafio pedagógico deste momento era a construção de slides no POWER POINT inserindo pesquisas de textos escritos e imagéticos da internet. Para tanto, devido ao laboratório da escola ser bem equipado, tinham disponibilizados mais computadores do que alunos, ficando, portanto, um computador para cada aluno.
Ao receber os educandos já se foi orientando para busca do programa POWER POINT, com subsídio de um passo a passo, sendo que as máquinas já estavam ligadas e feita a verificação se todas estavam com internet. Cuidado que se deve ter por ser uma aula de somente 45 minutos, portanto, deveria agilizar-se o máximo possível.
Assim, ao entrarem no programa, os alunos que tinham mais dificuldade iam ajudando os outros, após cumprirem sua tarefa momentânea. Alguns demonstraram dificuldade até para segurarem e coordenarem o uso do mouse, precisando de mediação maior da educadora. Outros tinham um mínimo domínio da utilização do computador, entretanto, também solicitavam ajuda, a qual era ofertada pela professora e pelos colegas.
Após abertura, por todos os discentes, do Programa, solicitou-se que acessassem a internet e pesquisassem no Google sobre trabalho e tecnologias. Todos digitaram os temas no espaço devido e abriram várias opções de pesquisa. Dessa forma, foi pedido que cada um escolhesse um texto que mais considerasse interessante e que fosse pequeno, para que fosse facilitada a cópia e colagem na lâmina a ser produzida. Esta tarefa foi feita com certa demora, pois estavam escolhendo bem o texto escrito que fosse ideal, bem como, ao ser solicitada a cópia do que precisava ser selecionado e o clique com o botão direito do mouse, então precisou ocorrer atendimento um a um dos educandos, pois ficou evidenciado que não tinham esta prática, exceto um aluno, o qual chegou bem atrasado e conseguiu realizar todas as tarefas em tempo e com relativa qualidade.
Tal dificuldade da maioria evidenciou-se inclusive quando, após colaboração e êxito no comando selecionar e copiar, tinham que minimizar a página da internet e abrir a página do POWER POINT, necessitando, novamente, a intervenção. Depois que todos conseguiram trocar a página, houve a orientação de clicar com o botão direito do mouse e colar, tal proposta já foi realizada com menos dificuldade, apesar de alguns terem direcionamento para execução.
Em seguida, guiou-se a organização do texto na lâmina, utilizando recursos de mudar a fonte, a cor da fonte, o tamanho da caixa de texto, o plano de fundo, enfim, explorando os recursos mínimos do referido programa. Sempre com a ressalva de que deveriam salvar, explicando com se fazer e por qual motivo fazer, todas as modificações que realizavam no slide.
Posteriormente, o desafio foi localizar uma imagem pertinente ao tema do projeto e ao texto que já haviam escolhido. Portanto, ajudou-se que os alunos retornassem à pagina da internet no Google e selecionasse a opção imagem. Neste segundo momento de transpor material às lâminas, houve menos dificuldade (copiar, colar, fechar página e abrir página), legitimando a extrema relevância do contato do educando com as TICs e relativa facilidade em aprender a dominá-las.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Das limitações do trabalho destaca-se que no Plano de Aula havia bem mais atividades idealizadas para aplicação, porém, ao perceber-se que as aulas na EJA tinham carga horária pequena (45 minutos) e a sala de aula ficava relativamente longe do laboratório de informática, perdendo tempo também no deslocamento dos alunos, condensou-se as atividades, constando algumas somente no planejamento, como por exemplo: a formulação de perguntas sobre o tema, por parte dos discentes, no intuito de sanar dúvidas, por intermédio de pesquisas na internet; exposição de textos orais fundamentados nas respostas encontradas sobre as problematizações (dos alunos) referidas; a explicação dos educandos sobre como construíram as lâminas, evidenciando as estratégicas tecnológicas utilizadas para montagem da apresentação; participação modesta dos alunos, com restritas contribuições de alguns discentes (quatro alunos pouquíssimo falaram e um negou-se a colaborar), que, por inibição, não respondiam quase às perguntas realizadas pela educadora; cada produção limitou-se a um slide, não sendo possível desenvolver a ideia inicial de quatro slides por trabalho.
Todos estes fatores elencados foram corroborados pela falta de conhecimento da professora em relação à turma e seus conhecimentos prévios (principalmente em relação ao uso do computador), por ter contato com os alunos somente na aplicação desta Unidade de Aprendizagem.
Em contrapartida, por terem vários computadores disponibilizados no laboratório com internet, houve utilização individual da máquina, podendo existir contato direto com o recurso tecnológico planejado por cada educando.
Dessa forma, é fundamental ressaltar que a turma, com exceção de um aluno, nunca tinha realizado uma produção no POWER POINT, ficando evidente que foi uma grande e pioneira oportunidade de interação com o computador, desmistificação do “medo” de seu uso, demonstração de suas grandes capacidades de aprender, produzir o material e dominar (em parte) os recursos ofertados no programa. Bem como, apesar da resistência inicial de alguns, ao iniciarem a proposta ficaram motivados e foram vencendo cada desafio lançado, com entusiasmo e dedicação às tarefas.
Por fim, destaca-se que o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, no contexto escolar, deve ser guiado pelas necessidades de aprendizagens dos educadores e educandos, perpassando a (re)avaliação constante, analisando as capacidades dos alunos, crescimento no processo de construção das aprendizagens e revisão das metodologias a partir da práxis (teoria e prática) pedagógica permanente.
5. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Marcia Santiago; ESPERANÇA, Joice Araújo; e ESPÍNDOLA, Danúbia. Primeiros Conceitos. Ambiente virtual: TICs na educação. Disponível em:
